sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Foi ou não foi?

Bem nesses primeiros dias não há muito assunto e as mudanças e acontecimentos são mais externos que internos (pelo menos para mim).
Mas voltando as acontecimentos...
No dia que soubemos com certeza e tinhamos exame em mãos saímos disparando a notícia, e nesse impeto de escrever para um e para outro amigo que foi importante e fez parte de um pedacinho de nossa história acabei escrevendo para ao Nando (Reis) pedi a ele o obséquio de informar aos nossos amigos que o acompanham.
E para nossa surpresa a resposta veio através da coluna esportiva que ele semanalmente escreve para o Jornal Estadão, Boleiros.
Nesta coluna ele não somente escreve e relata sua paixão pelo futebol, mescla sua vida, sua vivência e seus sentimentos.
Até o momento não estou certo se foi ou não foi uma homenagem, pois a sutileza e as mensagens inclusas são quase impercetiveis. Leiam e concluam:

As coisas que a gente quer - Boleiros 14/12

Há coisas que a gente quer muito. Há muitas coisas que eu quero muito e a intensidade desse desejo torna a expectativa de sua realização um momento desesperado de procura. Construímos invisíveis atalhos para encurtar esse percurso que só existe dentro da mente, como um liga-pontos feito com lápis de vidro, que acha no labirinto o ponto do encontro. Dentre as coisas que eu sempre quis, e quero muito, uma delas é a presenciar o acontecimento de um gol. Coisa sublime, o gol realizado redime toda a espera inútil sem resposta, anula a dor das derrotas injustas e maldosas, recupera o otimismo e a alegria de estarmos vivos numa vida onde há calor, há cor no ar, há mais sabor. Diante da conquista do tesouro, o presente explode de futuro, estende uma estrada que liga o passado ao fim do mundo, congela o tempo.

Há coisas que a gente quer muito. E é pra vida dos filhos que a gente acaba desviando o desejo de que o destino dedique somente a sorte da saúde e do amor. Por eles a gente dá o que pode e não pede nada em troca. Por isso mesmo é tão boa a hora que alguma coisa que só pode vir de fora faça as honras da vitória de uma alegria sobre a superfície fria de uma dor.

Gosto de futebol desse modo lúdico. Gosto do futebol para me benzer com as glórias vaporosas do acaso, como as cócegas da loucura de um orgasmo, como as cegonhas dos livros infantis. Futebol é a mentira que não rouba e não mata, que não perde a graça, até mesmo quando a realidade bruta e estúpida prova o contrário. Mas é daí, então, que devemos botar do avesso esse contrário e mesmo contra tudo que nos prove e diga esse contrário procurar seu inverso, inverter a burrice e a covardia e de novo acreditar que é possível se fartar no sonho de que o mundo é ‘bão’.

Há coisas que a gente quer muito. Querer demais nem sempre faz que se consiga e não conseguir não mata o desejo de querer mais, ainda e outra vez. E é por querer demais que mesmo quando a gente perde a gente não desiste, que quanto mais a gente perde mais a gente persiste, porque ganhar não é somente vencer, mas é sempre encher a alma de vontade de esperar e receber. Vencer é bom, e não há nada tão suave como o sono após receber o que foi esperado, tão bem-vindo. Esperar é renascer em todo momento. E o nascimento é como a glória de um gol. A gente pula e berra. A gente grita e sai da terra. A gente põe os pés de volta como se estivesse o chão tocando pela primeira vez.

Há coisas que a gente quer muito e não consegue. Como ter de novo a mãe que aos olhos do mundo é invisível, mas está plantada como sol eterno no deserto que derrete por dentro o ferro que envolve o coração. E ouvir assim uma voz soprando a melodia infinita das palavras de uma poesia. Pois anteontem tudo era chumbo, vento e tempestade, chuva escura e agonia. Sendo que antes mesmo do ontem de anteontem, estava eu gritando na beira do gramado a euforia em poeira da bobagem de uma simples alegria. Mas ando vivendo demais o dia de hoje. Vitima do estado permanente e paralisado de quem só mora no dia de hoje. Agora chega. Quero o próximo gol.

Há coisas que a gente quer muito. Há gente que a gente quer bem. Que está perto, de quem se reconhece o cheiro e o perfume. Gente que está longe no altar abstrato de um retrato. Gente que a gente nunca viu mas parece ser vizinho, primo, namorado. Gente que ainda não existe, pois está na barriga como semente bem plantada. Gente que é um mundo.